"À pala da fiscalidade verde, o Governo sacou mais aos contribuintes"

Mira Amaral acusa o ministro do Ambiente e Energia de fundamentalismo ambiental. E diz que Passos Coelho se aproveitou de Moreira da Silva para sacar mais dinheiro aos contribuintes.
Publicado a
Atualizado a

Luís Mira Amaral iniciou a sua carreira na energia e na banca, interrompeu-a para ser ministro nos três governos de Cavaco Silva, tendo regressado, depois, ao setor financeiro. Passou pelo BPI, presidiu à CGD e, como administrador não executivo, esteve em várias empresas, entre as quais EDP, Cimpor e Repsol. É, desde 2007, presidente do BIC Portugal.

Por causa da fiscalidade verde, gerou-se uma verdadeira guerra de números entre a Galp e o governo. Afinal, quem é que tem razão?

Infelizmente, não temos um ministro da Energia, temos aquilo a que tenho chamado ministro do CO2 e das eólicas porque ele, no fundo, está muito preso ao pensamento eólico, liderado pelo Eng.º Carlos Pimenta, que foi meu brilhante aluno. O Eng.º Carlos Pimenta é o orientador espiritual do Eng.º Moreira da Silva. De facto, lançar neste momento taxas de carbono num país que é dos menos poluidores da Europa e do mundo... Nós emitimos 0,16% do CO2 emitido a nível mundial e estamos num bloco económico - União Europeia - que só emite 11% do CO2 mundial. Para quem acredita que o CO2 gera o aquecimento global, o problema tem de ser tratado a nível global. É perfeitamente quixotesco que sejamos nós, em Portugal, com uma economia que esteve quase em falência, em que foram as empresas que conseguiram salvar isto, acabando com o défice externo, a avançar. É perfeitamente contraditório e incoerente, totalmente idea+lista e de falta de senso ir arranjar uma taxa de carbono que vai penalizar as empresas. A Galp fala de um aumento de sete cêntimos por litro, o ministro diz que são cinco cêntimos por litro. Isso são peanuts, é irrelevante. Acredito muito mais no meu amigo Eng.º Ferreira de Oliveira, que é engenheiro e especialista em petróleos, do que no ministro Moreira da Silva, que nunca trabalhou em energia. Ele não sabe nada de energia, não tem política energética, está atrelado ao fundamentalismo ambiental. A questão de fundo não é se são sete ou cinco cêntimos por litro. A questão de fundo é esta: nós poluímos muito pouco, não somos nós que vamos resolver o problema global e avançamos com esta taxa num contexto em que há apenas seis países na União Europeia que a têm. Num país que esteve à beira da falência, as empresas, que fizeram um esforço fabuloso para entrar nos mercado externos, não comunitários e para aguentar quotas nos mercados europeus, vão ser penalizadas em cerca de 95 milhões de euros. Qual é a sorte que o governo pode ter neste momento? É que, como o preço do petróleo está a descer, o meu amigo poderá dizer que o preço dos combustíveis desce e que este aumentozinho não tem grande efeito. Mas tem porque lá fora o preço também desce. Temos é de ver o nosso diferencial de preço em relação aos outros países, sejam cinco ou sete cêntimos por litro. Há empresas que estão aflitas e o mais pequeno custo adicional pode levá-las à falência. É o chamado raciocínio marginal da economia. Há um ponto de equilíbrio na margem e quando se desloca desse ponto isso afeta a nossa competitividade. Fico pasmado. Depois, quando eles dizem que isto é compensado com a redução do IRS para as famílias, isso não faz sentido, porque são as empresas que apanham com isso.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt